A quem serve o CQC?

Se engana quem assiste e pense que se trata de algo inocente. O CQC é um programa altamente ideologizado e cumpre um papel muito claro como parte da estratégia conservadora de manter as “coisas” como estão”.

Comentários moderninhos, piadinhas e humilhação pública. Já deveriam alertar o telespectador que se tem como crítico e de esquerda. Mas o programa vai, além disto, inclui em sua pauta campanhas pseudo-políticas (como a última desenvolvida por Marcelo Tas de não reeleger ninguém) que seriam “descomprometidas” ou “não ideologizadas”, muitas críticas e sempre generalistas um fatalismo que descontextualiza e desmobiliza o telespectador da vida política..

O que esta por trás do CQC não é humor e muito menos qualquer tipo de crítica relevante. O que esta por trás é o endosso do modelo capitalista explorador no qual vivemos hoje. Este cinismo engraçadinho, esse sarcasmo e as generalizações nas críticas são típicos de quem acredita que a “vida é como ela é”, que como disse Fukuyama, a “história acabou” e não é possível mudar as estruturas sociais.

O CQC faz um desserviço para o avanço da sociedade brasileira. Um desserviço ao avanço do respeito e garantia dos direitos humanos, da equidade e justiça social. Seu perfil irônico e aparente descomprometimento com a política brasileira na verdade não passa de uma fachada. Uma fachada para agir em nome dos interesses dos únicos que ganham com a desmobilização da militância política e falsa desideologização dos debates na sociedade. Os donos do pode! Sim, é isso que você leu. Estes que sempre estiveram por ai, que podem mudar de cara, incluir uns novos membros, mas basicamente são sempre os mesmos.

Alguma vez o CQC foi expor ao ridículo a senadora Kátia Abreu por seus infames discursos e ações em nome da bancada ruralista? Por favor, me contem, pois eu não assisto ao programa, mas tenho quase certeza que não. Por acaso o CQC foi importunar os editores da folha quando eles falaram em “ditabranda”? Duvido.

O CQC não cumpre nenhuma função social, não educa, não informa, não transmite valores. E pior, ao “entreter” realiza um desserviço, pois ajuda a escamotear as grandes questões que estão por trás dos problemas de nossa sociedade. Ao “entreter” na verdade advoga pelos interesses daqueles que “querem manter as coisas como estão”, daqueles que não querem que nosso país seja uma verdadeira república, daqueles que não querem maior participação popular, daqueles que não querem reforma agrária, daqueles que não querem direitos humanos universais.

O CQC é o maior representante a defensor daqueles que dizem que político e tudo igual e que não gostam de se envolver com essas coisas. Ou seja, “o analfabeto político”.

Segue uma citação de Brecht que eu tinha postado há algum tempo junto com outras citações dele:

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, da renda de casa, dos sapatos, dos remédios, dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito de ar dizendo que odeia a política. Não sabe o idiota, que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, aldrabão, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.”