Uma cena de 2014

Postado por guZZ

(normalmente eu evito reproduzir textos aqui mas este estava muto bom...)
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Cena de aeroporto em 2014
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UGO GIORGETTI - Estadão
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Estamos em 2014.
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O senhor Hans Reutberger- Sieblinsky está parado no meio do aeroporto de Guarulhos, perplexo. Ele é o chefe da delegação de um pequeno, porém tradicionalíssimo, país europeu, que tinha, no último minuto, obtido classificação para a Copa no Brasil. Depois de 13 horas de vôo e esperar por um tempo a seu ver intolerável para sair da alfândega com as malas e material esportivo, o senhor Sieblinsky estava realmente confuso. Olhava para o monte de passagens aéreas em suas mãos com o nome da empresa brasileira que faria a conexão de seu vôo com Belo Horizonte.Certamente herr Sieblinsky estava entendendo mal o que lhe diziam. Afinal seu inglês não era grande coisa. O do seu interlocutor brasileiro, infelizmente, não era melhor. O fato é que tinha conseguido entender que a companhia aérea na qual sua delegação deveria embarcar tinha encerrado as atividades.
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Fechado. Closed down. Kaput. Como seria possível uma coisa dessas?! Ontem mesmo tinha falado com a companhia! Ela não só existia como confirmou o vôo!Mas realmente não havia ninguém atrás do balcão da empresa.
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Nobody. Personne. Procurou imediatamente entrar em contato com o embaixador de seu país no Brasil. Uma gravação em português respondeu: "Esse número não existe."
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Depois de ouvir com toda a atenção por três vezes a mesma mensagem, resolveu ligar para o cônsul, em São Paulo. Ao receber uma resposta em sua língua nativa, quase foi às lágrimas de alegria. Mas apenas por um momento. Logo depois o cônsul em pessoa o informou que sim, não só era possível empresas de aviação no Brasil quebrarem da noite para o dia, como a sua realmente quebrara. Olhando desnorteado para as inúteis passagens o sr. Sieblinsky arriscou:
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"Bem, podemos ir de trem."
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Julgou ouvir uma risada abafada do outro lado e soube que no Brasil há muito tempo não há trens. Pelo menos o que um europeu considera trem.Já apreensivo, ao ver seus jogadores e a Comissão Técnica se amontoando no chão do aeroporto lotado, o homem teve forças para dizer:
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"Ônibus, então?"
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Ônibus, muito bem, vamos verificar. Horas depois, o cônsul ligou de volta, e para surpresa do sr. Sieblinsky, com voz natural, de quem está no Brasil há vários anos, declarou: ônibus também não dá. Haverá grande reunião de evangélicos em BH, onde são esperados 5 milhões de fiéis. Não há passagens. Pelo som que o pobre sr. Sieblinsky emitiu pelo telefone, o cônsul percebeu que sua presença era requerida no aeroporto. Antes, porém, resolveu avisar: não tinha a menor idéia de quando ia chegar em Guarulhos, porque ameaçava chover e a Marginal ia virar um inferno. Além disso, o mecânico que tinha prometido entregar o carro do consulado "o mais tardar lá pelo meio-dia" não estava respondendo aos insistentes telefonemas.
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Ao desligar, uma coisa continuou intrigando o cônsul: por que herr Sieblinsky tinha reservado vôo para Belo Horizonte? Será que ele não sabia que a sede dos jogos do seu país tinha sido transferida, no último instante, para Goiás? Ninguém avisou? No fim o cônsul mandou chamar um táxi especial e saiu rumo à Marginal, soltando palavrões em sua língua nativa.Na mesma noite foi ouvido o seguinte diálogo entre dois garis do aeroporto:
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-Você viu o gringo que pirou no meio do saguão?- Que time que era?- Sei lá, Itália, eu acho.
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BRAZIL!! ZIL ZIL!!

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