Temos que avançar por partes e com cuidado.
Sou socialista e considero o governo Lula um governo social-democrata. A social-democracia tem muitos problemas, mas também é capaz de trazer ganhos reais aos trabalhadores e classes oprimidas. São ganhos reais, mas o problema é que não são estruturais, não mudam as bases da organização social e por isso podem ser removidos com maior facilidade (uma mudança de governo, por exemplo).
O problema é que a social-democracia se alia aos poderes tradicionais (ou parte deles) para ganhar uma “margem e trabalho”, mas com isso seu escopo é diminuído e esta “margem” é restrita. Alguns exemplos concretos do que estou querendo dizer: o aumento real constante do salário mínimo é um ganho no governo Lula, os programas de transferência de renda também, atuação da PF e da CGU, etc; já a ausência de reforma agrária é uma conseqüência dessa aliança com os poderes tradicionais, a ausência de reforma-política idem, assim como o contínuo e exacerbado uso do fisiologismo.
Diferente da esquerda no passado eu acredito que temos que ser mais tolerantes. Minha oposição à social-democracia nunca será maior ou mais ferrenha que minha oposição à direita de fato, isto é, os neoliberais, os neo-cons e os fascistas de sempre.
Por isto sempre vou apoiar o Lula outra os tucanos e pefelistas, ao menos enquanto não houver uma alternativa
Minhas críticas ao governo Lula em termos ideológicos são as feitas acima. Em termos programáticos são as seguintes:
- O governo abandonou a reforma agrária (além de não ter cumprido
- O governo não bancou a discussão sobre a legalização do aborto (também esta prevista mas foi abandonada depois da oposição das igrejas - principalmente as evangélicas. O detalhe é que segundo a ONU o Brasil é o país do mundo que mais faz abortos, e o índice de mortes é altíssimo)
- Desmonte da legislação ambiental (rompendo com posições antigas governo aprovou o plantio comercial de transgênicos e nos últimos meses vem ou bancando ou sendo condizente com o desmonte da legislação ambiental: MP 458 e 452, lei da pesca, lei das cavernas, tentativas de mudar o código florestal, pressão sobre o processo de licenciamento ambiental, etc)
- Conivência ou aliança com grupos de interesse que agem à margem da lei (se por um lado o governo criou excelentes medidas de combate AA corrupção como o portal da transparência, o novo sistema de cartões corporativos, a CGU, a PF, etc; por outro deu um tremendo espaço para a atuação da máfia de Daniel Dantas dentro da cúpula – isto no segundo mandato)
- Lei de imprensa (o fim da antiga lei de imprensa era necessário, já que era arcaica mas isto não significa que não seja preciso uma regulamentação para a mídia)
- Reforma administrativa do Estado (não avançou na agenda de diminuição de cargos comissionados com vistas a redução do conflito público-privado, seja por clientelismo seja pelas chamadas “revolving doors”)
- Reforma política/eleitoral (também era uma bandeira do governo Lula e não avançou. A discussão do sistema eleitoral e político foi feita como cortina de fumaça para o congresso nacional)
Todas estas questões referem-se a legados que podem alterar a estrutura da organização social de nosso país. Tiram poder de grupos privilegiados e apontariam para uma maior justiça social. A maioria dos itens, e dos mais sérios, são bandeira que pertencem a esquerda. Bandeira que a direitas nunca encampou e, quando o fez, foi por demagogia. Atualmente não há nenhum presidenciável com interesse ou legitimidade para levá-las à frente.
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